GATOS AO SOL DE LISBOA

Não me canso de apreciar a dignidade e beleza destes gatos, tão independentes. Alguns, como a gata amarela e o gato cinzento são meus velhos conhecidos. Moram todos junto ao estaleiro naval da Rocha do Conde de Óbidos, gozando de alguma protecção por parte dos operários do estaleiro, que diversas vezes têm demonstrado amizade pelos muitos animais do local...

Cidade dos gatos ao sol no fim de tarde a aproveitar os últimos momentos de calor. Logo logo vem o escurecer e nesta época do ano estes habitantes de Lisboa passam muito frio, especialmente durante a noite.

O gato cinzento e branco é muito parecido fisicamente com o meu TRIPÉ, que veio desta colónia em Maio passado, com 2 meses e entretanto cresceu e tornou-se muito bonito...

Fotos e comentários do Gatopardo - 2006

OLHAR O MUNDO

Tenho fama de passar os meus dias a dormir, e isso até é verdade. Seria estúpido tal fama sem o proveito correspondente, mas para mim, que sou uma gata erudita, o que gosto realmente é de observar e sentir o mundo. Com estes dois olhos hiperactivos, imaginação, sensibilidade e bom senso...

Nestes primórdios de novo século (eu sou ainda do século velho, sem ser gata idosa, que me sinto na meia idade que realmente tenho, isso pouco interessa agora e a uma gata não se pergunta a idade, segundo o código dos prestimosos humanos que levam a vida a servir as suas gatas) é enorme a responsabilidade que pesa sobre o pelo de uma gata. Deixámos os humanos conduzir o mundo a seu belo prazer e agora que se meteram em ruptura com a natureza, teremos que ser nós felinas a endireitar as coisas. Se calhar nunca repararam, mas entre as nossas quatro patas, exercemos justo matriarcado.

Recentemente tenho-me preocupado imenso com as crueis situações dos gatos na China, que vêm sendo assassinados para que depois se tratem e vendam as peles respectivas. Já era tempo de acabar com estas actividades macabras aqui na Europa, finalmente a Comissão Europeia olhou para a questão. Já em relação à ida do Pápa à Turquia não espero grande coisa, que o Vaticano seria a última entidade a alertar para as privações e sofrimento dos muitos gatos turcos na actualidade. Noutra vida fui Deusa nas margens do Nilo, não é agora que me vou deixar conduzir a partir do Vaticano...

Tenho meditado profundamente acerca de Portugal, dos seus humanos e gatos. Nunca mais se sai do depressivo défice nas contas do Estado. E sem este pressuposto, nunca mais vou ter o prazer de ver os meus humanos felizes, descontraídos, blá-blá...

E por hoje os meus pensamentos soltos ficam por aqui.

Ensaio da gata Kikas, transmitido pelo seu fiel Gatopardo...

SEBASTIAN GATO MARINHEIRO

Há gatos para quem a vida é bela. O Sebastian que o diga. Este ano fez uma fantástica viagem transatlântica a bordo do paquete mais famoso do mundo, o RMS QUEEN MARY 2, de Nova Iorque para Southampton e regresso a N.Y., acompanhado dos donos, Paul e Michael, responsáveis por esta aventura e por um blog do Sebastian , que recomendamos.
Aqui ficam duas das fotografias publicadas no referido blog, cedidas por Paul e Michael e uma sugestão: façam uma viagem no QUEEN, podem levar os vossos gatos. Se tal estiver fora de perspectivas, espreitem o diário do Sebastian. O tal gato para quem a vida é bela...

Fotos do Sebastian de Paul e Michael. Imagem do QM2 e texto do Gatopardo - 2006

ADEUS, SININHO

Este gato lindo adoeceu recentemente e não foi possível restituir-lhe a saude. Acaba de se separar dos Donos após quase dez anos de vida comum. Como todos os gatos, vai para o Céu.

Este Verão cuidei do Sininho nas férias dos Donos. As fotografias datam dessa altura - Julho, e o Sininho estava no seu sofá preferido, a meditar após ter almoçado.

Personalidade forte, era o chefe da banda incontestado: sempre o primeiro a comer, sempre preparado para impôr a sua autoridade quando algum dos companheiros infringia as regras...

Já tenho saudades dele, agora que não me vai voltar a receber à porta de casa. Em Julho transpirava saude e boa disposição, bem conservado e bonito nos seus nove anos. Tinha sido encontrado no Algarve, em cima de uma árvore. Pequenino. Engraçado. Ganhou uma família e trocou o Sul por Lisboa.

Foi um gato feliz. Ainda há dias era um gato feliz.

É tão frágil a vida, tão ténue o fio que nos separa da não existência, tão incerta a contínua sucessão dos dias até ao último. Mas vale a pena, cada dia um rol de oportunidades que tendencialmente desvalorizamos em detrimento de coisas menores que nos vão caracterizando as rotinas.

Um sábio, o Sininho conhecia bem as limitações da existência. Viveu regalado num conforto ocioso rodeado de mimos, foi feliz..., e como todos os gatos, vai hoje para o Céu.
Fotos e palavras do Gatopardo - 2006

RITA: A NOVA GATA DO GATOPARDO

Sou a RITA, a mais nova residente felina da casa do Gatopardo. Sou uma jovem com muita personalidade e estou a adaptar-me bem à casa e aos novos amigos. Tive receio que a mudança fosse mais dificil.

Já sofri muito. A minha antiga dona morreu e eu estive uma semana fechada na casa da Senhora até que alguém detectasse a situação. Depois dessa aflição toda levaram-me para o Gatil da CML, em Monsanto, onde fui muito mal tratada. Na altura salvou-me do extermínio previsível uma outra senhora bondosa que me resgatou de Monsanto. Só que os meus problemas pareciam não ter fim, pois passados meses esta última senhora foi denunciada à terrível CML e fiquei mais uma vez em risco de voltar ao Gatil. Felizmente o Gatopardo gostou de mim e adoptou-me. Tem-me dado imensos mimos e espero sinceramente estabilizar finalmente. Hoje passei horas à janela a apanhar sol. Estou a gostar de ser uma gata de família. Seja isso lá o que for, gosto. E todos dizem que sou linda...

Desabafo da RITA, com foto do Gatopardo - 2006

TRIPÉ CADA VEZ MAIS LINDO

O TRIPÉ (nome oficial STRIDER) está cada vez mais lindo. Nascido em Março e adoptado em Maio, era um dos gatos da colónia da Rocha do Conde de Óbidos. O facto de só ter três patinhas não tem impedido o seu desenvolvimento harmonioso. Está enorme e muito bonito mesmo, sendo um pestezinho um pouco endiabrado. Dá-se muito bem com os restantes residentes felinos, não é grande apreciador de colo, e não gosta nada que o agarrem. Mas está sempre por perto e dá ares de quem se sente bem na vida.

Comilão e brincalhão, está com um pelo óptimo. Tem instintos apurados e fica doido quando detecta algum insecto, chegando a meter-se de pé na sua única pata traseira. Curiosamente quando visita o veterinário tem um comportamento irrepriensível... A fotografia foi feita hoje (12 de Novembro). Próximamente o TRIPÉ deverá ser esterilizado, mas até agora tem andado relativamente calmo, com uns miaus mais agudos e tentativas de brincadeiras mal sucedidas com as gatinhas residentes... O "pediatra" acha que se deve deixá-lo crescer um pouco mais...

Comentário e foto do GATOPARDO

SENTIDOS DA VIDA

Estes gatos têm os dias contados. Uma denúncia à Câmara Municipal de Lisboa põe em causa a vida deste grupo. É urgente a adopção ou o seu acolhimento temporário. Sem querer aqui julgar os enquadramentos sociais que levam alguém a encher a casa com gatos recolhidos da rua, nada justifica a falta de dignidade com que as entidades camarárias encaram estes problemas. A forma como uma sociedade trata os seus animais reflecte a vitalidade e dignidade da mesma. Há que mudar atitudes e comportamentos. Mas para estes gatos lindos, o tempo que lhes resta é injustamente escasso. Alguém os pode ajudar?

Um dos conceitos mais propalados no âmbito do actual código de atitudes políticamente correctas é a defesa da vida. Diz-se respeitar a vida por tudo e por nada, mas a realidade é no mínimo inquinada de hipocrísia. Respeita-se a vida com a mesma imperfeição com que os Gregos antigos exerciam a Democracia. Era só para alguns. Também a defesa da vida actual se exerce efectivamente quando convém. De preferência virada para o nosso umbigo. Porque sobre a vida na sua globalidade não há o mínimo respeito. Que não seria de esperar do HOMEM-PREDADOR. Destrói-se tudo à nossa volta, comprometendo mesmo a saúde e o equilíbrio do planeta. Não se respeita a vida da nossa própria espécie, mesmo que se usem conceitos de justiça a justificar a barbárie (quantos países ainda aplicam a pena de morte, a começar pelas grandes potências, como a China ou os EUA?) e a forma como dispomos da vida dos seres das outras espécies só reforça essa hipocrisia.
Isto tudo a propósito de Gatos. Gatos condenados ao extermínio municipal. Gatos de Lisboa, recolhidos no apartamento de alguém que não tem resistido aos miados diversos de cada rua. E com o tempo foi levando os gatos para casa. Os pequeninos ainda se vão dando, mas os adultos ninguém os quer. Vão ficando. Bem alimentados. Acarinhados. Mas em número supostamente excessivo face ao espaço disponível. São a alegria e o centro de atenções da protectora. Mas são em número muito superior ao permitido pela Câmara Municipal de Lisboa. E houve uma denúncia, talvez da vizinha de baixo. Bem à portuguesa. Acabou a denúncia de hereges à Santa Inquisição, que tantas fogueiras - autos de fé, assim se chamavam, encheram durante séculos. Também já não se apontam os comunistas à PIDE (terão deixado de comer criancinhas?), mas a arraia miúda de Lisboa encontrou na Câmara Municipal o renovado conceito da denúncia. E denunciam-se os gatos dos vizinhos. Os gatos que hoje apresentamos nas fotos estão no corredor da morte.

Dia 14 de Novembro serão confiscados do apartamento em que vivem e transferidos para o corredor da morte de Monsanto. Uma semana depois serão executados. São gatos lindos, dos mais variados feitios e cores. Cada dia que passa é menos um dia de vida. A única possibilidade de salvação é serem adoptados. Com urgência. SOS - AMIGOS DOS GATOS. Quem fica com estes meninos?
Quem estiver disponível para ajudar, por favor contacte o GATOPARDO: escorpiao.tinhoso@gmail.com

Apelo e fotos do Gatopardo - 2006

FELINO BRINCALHÃO

Nunca tinha observado na rua um gato tão brincalhão, bem disposto e, ao mesmo tempo tão independente, com um carácter vincadamente felino a ignorar ostensivamente o fotógrafo.

O encontro deu-se no largo da Câmara Munícipal da vila das Velas, Ilha de São Jorge, mais precisamente no jardim.

Um gato amarelo, jovem, de coleira vermelha com guizo, e coleira preta insecticida. Foi tanta a brincadeira e as palhaçadas que estive quase uma hora a fotografá-lo: subia às árvores, com uma destreza de tigre, escondia-se, rebolava-se no chão...

E pelos vistos toda a gente o conhecia no jardim. Apesar de me ter ignorado, talvez por me saber forasteiro e indiscreto, aqui fica uma selecção das muitas fotografias que nesse dia tirei ao gato amarelo das velas de São Jorge.

(Nota: os olhos e o nariz estão sujos de terra, de ele se rebolar no chão. Não estava nem por sombras doente...)

Fotos e indiscrição do Gatopardo - 2006